sábado, 11 de outubro de 2008

Vermelho.

Existem momentos nos quais você não consegue mais segurar aquele rancor, aquele ódio, aquela amargura, aquela mágoa no peito. É preciso desabafar, expandir o íntimo, deixar que tudo o que está dentro de ti escorra por entre os dentes, umbigo, orelhas e principalmente olhos.
E, creio eu, ele estava a meio passo de fazê-lo em público. Era visível que ele tentava segurar aquilo tudo, mesmo que por alguns minutos. Mas, aquilo já não cabia mais em seu corpo; ficara maior que ele próprio: necessitava sair dali para um lugar maior. E o maior lugar que havia por perto era o meio externo. Falou com alguém algo um tanto irrelevante e ficou um tempo na escada, a esperar.
Não era exatamente quem ele esperava, mas a avistou. E quando a viu, sentiu que não iria mais agüentar. Outro sentimento estava crescendo nele. Só que não havia espaço no corpo.
Foi inevitável: nos braços dela, ombros e corpo inteiro, ele descarregou tudo aquilo. E saiu pelos olhos. Água levemente salgada e fiapos de tecido vermelho se misturavam.
Ele chorou baixinho, uns quatro ou cinco soluços. E isso já era costumeiro. Sempre expelia e transmitia sentimentos mais pelos olhos do que pela boca.
Num momento no qual só eles dois existiam, o tempo parou. Ela secou seus olhos. O que ele via era só ela e manchas turvas de prováveis pessoas ao redor. E, como diriam outros, tudo ficou branco, azul, amarelo, verde, rosa, vermelho... Preto e branco. E vermelho, claro. O vermelho do casaco, o vermelho das bocas e o vermelho dos corações e veias que pulsavam sem parar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário