segunda-feira, 30 de novembro de 2009

cni: criatividade noturna limitada.

Segunda-feira, 15 vezes. Sete só no café-da-manhã. 2 depois do acordar e 3 quando o pé direito tocou na calçada. Preto e branco, branco e preto. Impossível não se lembrar do retrato. Quem lhe desmentiria? "fotos não devem ser assim, sem sentimentos." Mas aquelas eram! Não era dos melhores, mas ainda assim.
Os olhares, todos eram desviados. Seus óculos refratavam-lhe a visão, assim como aprendera em física. Assim como os pés descalços não lhe doíam. Assim como lhe doía a mente, o coração, os dois órgãos co-juntos. Um passo à frente e um escorregão lhe seria fatal. Mas o cosmo conspirava-lhe beneficamente. Enviou-lhe apenas um esbarro.
Era uma moça, cabelos ruivos, daqueles de tirar vantagem do amigo que não os viu. Assobiava balançando os olhos no ar, os pés calçados por sapatilha azuis com laços pra lá e pra cá, o vestido de cor irrelevante... O ruivo sempre sobressai. E somente percebera o azul porque era a cor-de-rosto preferida por seus olhos cor-de-cinzas. Olhar-se profundamente nos olhos foi-lhe o primeiro ensinamento de susto mútuo. O segundo seria pedir desculpas por algo que provavelmente não foi sua culpa? Não, não para eles. O segundo ensinamento seria (e foi) sorrir. Um sorriso de canto de boca, canto de rosto, olhos-da-cinzas, cabelos-arruivecidos, dedos lânguidos, o rosto de uma morbidez... Era a noite, não tinha como haver dúvidas. A noite, como sempre imaginou; como sempre surgia em seus pensamentos. O seu primeiro encontro com a noite, os sorrisos, os decotes, a lascividade, os rostos latêneos. Era a noite, na sua completa forma, real, palpável. Velas, brilhos, luzes, cortes, pessoas... O pescoço. Os 55% de sua criatividade já estavam esgotados a esse ponto. Queria ingressos para o show. Resolveu voltar para casa e tentar novamente ao amanhecer do próximo dia 21.

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