sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A História de Cadu.

E mais uma vez eu estava lá naquele barzinho conversando com o Cadu. Quer dizer, conversando não, mas fingindo que prestava atenção no que ele falava e pensando por dentro. Estava realmente pensando sobre parar de sair com o Cadu, ele fala bastante e muita besteira. Certo, não sei se é realmente besteira porque não presto atenção. Mas ora, se fosse algo que prestasse eu com toda certeza do mundo estaria interessando.

Enfim, estava pensando em parar com aquelas sessões de fingimento de conversa, falar pro Cadu nunca mais me procurar, quando comecei a reparar nele, no cabelo dele, nos olhos, nos cílios, na sombrancelha, no jeito como ele falava e gesticulava com as mãos, nas suas bochechas quase inexistentes... Enfim, nele. Me dei conta de que o Cadu era uma pessoa normal, como qualquer outra. Mas que não poderia ser outra pessoa que não fosse ele. O destino dele era ser ele, exatamente como ele era. Coisa de maluco mesmo, de gente que não tem o que fazer. E como eu estava de férias do trabalho, aquela virou minha obsessão; observar o Cadu.

Daí sempre que saía com ele, levava um caderninho para fazer anotações. Sempre que ele ia ao toalete, eu anotava alguma coisa. E como ele ia quase que constantemente, eu já tinha quase um livro de informações com menos de duas semanas fazendo aquilo. E daí me bateu a idéia de fazer um livro.

Certo que o Cadu não era um cara muito interessante, até entediante demais, mas com aquelas minhas observações naquele determinado tempo, eu conseguiria fazer com que ele tivesse alguma história, algo que chamasse atenção.

Eu escrevi o livro, com mais ou menos 130 páginas. Ok, ok, eu confesso que acrescentei coisas da minha imaginação e que coletei mais dados durante as nossas “conversas” de terças e quintas-feiras naquele barzinho que tinha até que uma decoração legal e um ambiente propício a alguma história interessante.

Acrescentei tudo isso e muito mais à minha história. A história de Cadu ficou realmente interessante. E interessante que eu até escrevi um prólogo explicando toda aquela situação – coisa de artista mesmo.

No início eu fiquei com receio de mostrar ao Cadu e pedir sua permissão para publicar. Pensei até em publicar sem pedir sua permissão, até porque o Cadu da minha história só se parecia com o Cadu da vida real nas suas características físicas. Mas decidi mostrar. Vai que ele se toca e inicia um processo contra mim? Melhor prevenir. Eu enviei pra casa dele pelo correio (essas coisas de internet não são muito a minha praia pra escrever histórias. Só escrevi a história num laptop porque não tinha papel pautado o suficiente para escrever – não tenho filhos e meus cadernos do colégio estão todos guardados numa caixa cheia de poeira e provavelmente entupidos de desenhos e assuntos de química, história, geografia, biologia, matemática e por aí vai) com uma carta explicando mais uma vez a história toda, mas com um tom mais íntimo, porque, afinal, ele era meu, vamos dizer, “amigo”.

Bom, então é isso. Eu mandei esse pacote com a história pra ele ontem e vou esperar a resposta até a próxima terça.

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