domingo, 24 de fevereiro de 2008

(resgatando textos antigos)

carta para um morto.

"...Quando percebi, tinhas me tirado pra dançar. Curti aquele momento como se fosse o último da minha vida. Afinal, não é todo dia que nos encontrávamos.
Aproximadamente um ano depois, tive a impressão de te ver passeando com mulher e filhos. Nessa época também estava casada. Você mexeu comigo.
Dois meses depois, retornei a te encontrar. Mas desta vez nos esbarramos. Acho que não lembrou-se de mim, pois pediu um pedido de desculpas quando se pede desculpas para uma pessoa que nunca se viu na vida. Mas deixei pra lá, até porque não tinha motivos para me reaproximar.
Passaram-se duas décadas. Muito tempo, mas eu ainda me recordava de ti. Percebi então que era você. Era! Separei-me, deixei a alice com minha mãe e busquei notícias sobre você.
Um mês.
Depois de um mês achei no jornal uma foto do seu rosto: macio, barba mal feita, olhos grandes, sombrancelhas, nariz pequeno, boca e suas bochechas. A manchete dizia: "Homem morre na Av. Paulista". O texto dizia que tu havias se jogado contra os carros. Deixara uma carta com uma mulher e que havia pedido a ela para entregar à Maria Rita de Cássia Casamarante. À mim.
Estou indo buscá-la."

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