quarta-feira, 30 de junho de 2010

metamorfose.


certamente incerto. quando meus ouvidos cansaram de escutar som de passos em folhas secas, era a hora de virar-me e descobrir quem me seguia por aquela floresta imaginária do meu ser. poderia ser eu mesmo, minha mãe ou até um de meus filhos. mas eu sabia que não. eu não conhecia aqueles passos incertos, sempre me rodeei de pessoas concretas e certas de si. ali estava alguém que certamente eu nunca havia realmente visto de perto, nem sentido o cheiro ou algo parecido. era um cheiro de alfazema, não tenho muita certeza. alguém que eu não conhecia.
o desespero nunca havia tomado conta de mim e eu não sabia lidar com esse sentimento tão novo e tão... incerto? talvez a melhor palavra para defini-lo fosse indefinível, mas, na hora, faltaram-me palavras e tudo o que eu poderia fazer era abrir os olhos, enxergar a realidade concreta das coisas que existem e não mais escapar de tudo o que me persegue. eu não poderia mais correr: meus pés me forçavam a ficar. minha cabeça já não mais pensava e meu cérebro, naqueles instantes, era apenas uma massa cinzenta que eu nunca havia realmente checado. quem sabe se a verdade é realmente o que dizem? ou o contrário do oposto inverso. nunca se sabe se é a gente que persegue o sonho ou se é o sonho que nos persegue.
naqueles instantes, tudo o que se passava na minha cabeça, tudo aquilo eu não sabia se era sonho ou realidade. toda aquela gente, toda aquela festa, aquele vinho e toda aquela nudez exacerbada. parecia mais uma festa para a qual eu não havia sido convidado justamente por não ter aquilo como real para mim. não passava de sonho, não passava de frustração e meta a não ser alcançada. tudo o que eu desejei até então fora apenas paz e tranqüilidade, paz e tranqüilidade. mas tudo o que eu via se chocava contra a minha moral, meus preceitos, meus preconceitos e contra a minha concepção de tudo. nunca que aquilo havia ocorrido a mim, nada daquela verdadeira bacanal. tudo se passava sempre no mais limpo e vestido ambiente, nada muito profano. ou seria natural?
naqueles instantes, eu me dei de cara com uma realidade na qual eu não vivia e para a qual eu nunca havia realmente olhado. só visto de banda, de outros olhos e de outras fontes. naqueles instantes, todas as minhas concepções foram partidas em cacos e tudo virou caracol. nada mais seria quadrado e tudo o que pra mim antes era profano, naqueles instantes tornou-se natural. a natureza nos fez nus e se assim fomos feitos, deveríamos assim ser. minhas construções “econômico-sociais” foram todas por água abaixo e nenhum daqueles pedaços se encaixaria mais em mim. meu corpo havia se remodelado, fora refeito e talvez até transformado em outro. eu não era mais aquilo que eu pensava ser eu mesmo. talvez nunca tenha sido. talvez a minha natureza fosse realmente aquela e eu que nunca havia percebia. eu nunca haveria de perceber se meus passos não fossem seguidos por outros incertos. desde sempre havia me concentrado a viver da forma que me mostraram e não haveria de mudar sozinho de vez para o-tudo-o-nada. minha vida de jejum fora refeita em tempos incertos, inconstantes e impalpáveis. tudo o que eu poderia sentir a partir de então era sabor, cor, cheiro... tudo de mais incerto, inconstante, mutável.
eu nunca fora eu mesmo, natural como deveria ser. mas, desde aqueles instantes, eu havia me tornado quem eu haveria de ser.

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