Se eu parasse pra pensar em tudo o que me faz falta, perderia meus olhos de tanto que eu os sentiria cerrados. Para falar a verdade, passei a madrugada inteira ruminando essas palavras inconsistentes. Inconscientemente criei pseudônimos para o meu pônei e pensei que eu poderia voar dali em diante. Teria que nunca mais olhar para trás e pensar só no agora e sempre. Minha rotina teria um novo foco, andaria novas trilhas e traçaria novos rumos. Eu viveria num mundo dali por diante, uma cadeia fechada na qual eu não mais andaria em círculos, mas sempre em linha reta. Esse seria o meu novo paradoxo.
Mas a ansiedade me tomou conta e eu quis ver e viver antes do necessário. Precisaria do tempo que não quis me dar. Os sonhos, deveria eu supor, desconstroem-se quando idealizamo-los por demais. Pensei em publicar todas essas letras e tardar a minha infância, leviatar o meu desespero e a minha crescência de ser doente dali para frente. Meu caminho seria só um, e em linha reta, assim como eu havia sonhado. E eu queria nada mais que aquilo. Queria logo; queria de profundo. Mergulhei rápido demais e vi que as águas, que anteriormente pareciam estar revoltas, eram serenas e ninantes, a ponto de me fazer perder o ponto de vista, a opinião daquilo tudo. Pensar no monstro do mar de nada adiantaria para mim. Queria só o quebrantar das ondas, a língua impronunciável e a comunicação inaceita por mim. Incomunicação era o que eu tencionava. Disse qualquer coisa em espanhol, um adeus, antes de partir e não disse mais nada durante um caminho que previra tortuoso e maremotento. Era a minha significação logo ali que eu busca-vida. Ouvi música sem letra, apenas melodia laboriosa e sensata de som de mar frágil e indescritível. E fui; parti-me em dois e fui.
Não deixei registro nem carta postal, porque não queria sentir no dorso a dor da perda e do abandono. Aquilo era para mim e meu, assim como meus ossos. Eu tenho alma dentro deles e não deixarei o cálcio corroborar com o endurecimento de um coração molengo. Eu tinha força suficiente e ainda de sobra para poder pôr-me de pé ante a escadaria coclear. Eu era a minha casca, o meu casulo; e dali não sairia borboleta, mas sopro de vento. Ouvi a mesma canção até tomar fôlego e dei cada passo de vez, alimentando minhas botas e pensando com os pés: para que lado fica o direcionamento da bananeira da casa da avó? Eu deveria pensar com os olhos também, mas, de tão cerrados, nem lágrimas dali saíam. O cálcio aferventou meus olhos e me deixou mambembe de cor. Meu sibilo era o meu som, não minha cor. Cor agora era coisa de daltônico para mim: tanto faz, já que não enxergo. Eu via era som e movimento, tudo o que me importa.
Parti para ali-além, para nunca mais voltar, pensar nos pássaros-passos e olhar para trás. Eu não precisava marcar um caminho que nunca mais percorreria. Eu disse adeus e fui embora para dentro de mim.
Me sinto assim!
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