sábado, 21 de agosto de 2010

espumosa.

mergulhado no mar, uma espuma branca sobe para avisar que me afoguei. uma espuma branca, uma pasta, gosma massuda, ligando as margens de um mar azul-profundo, de águas tranqüilas e malemolentes. o som das águas anunciando um suspiro, um leve caimento, um dedo tocando um coral. e as cores, dançando suaves na brisa que vem de dentro do mar, essa outra brisa que a gente acostuma a chamar de maré. ondas de ar, torsões de dentro do pulso, os ossos descalcinando, as pálpebras esmorecendo. uma onda branca que tem um destino revelado desde lá, de um outro lugar, de um profundo que a gente não consegue enxergar, mesmo com a luz sem luz, mesmo com o ar sem ar.
o mar que mergulhei, não sei o que tinha. tinha coisas que eu vi e não vi, que consegui e não enxergar: porque tive de deixar os olhos cerrados, fechados para que eu não ficasse cego. uma vez vista a verdade, as aliteração mundanas se dissolveriam entre o lá e cá das minhas mãos, as palmas das minhas mãos. e não adiantaria plantar semente, porque esfacelar é coisa de muito não-amor. preferi caminhar no intangível, ouvir os sons, os poemas não-ditos, sentir a diferença de luz que as pérolas produziam nos meus olhos, as conchas tamborilando as pedras, os corais, os corais entoando canções de mar de amor. o grave do amor, sentido na pele, nos poros da pele: a essência saborizada entrando pelos buraquinhos ínfimos da pele.
o que flui mesmo é vapor, desoxidação de pensamentos, fluxo de margens fluviais, tudo isso no interno. o pensamento contíguo ao meu, o sorriso que eu imaginei de lá do fundo, tudo faz pensar no daqui de cima, no aqui, no lá e acá. cá de longe, eu senti que tudo fluía melhor nas ondas saborizadas. no ar fica tudo mais denso, tudo sempre mais pesado, atraído por constantes e inconstantes acontecimentos: coisas do coração: coisas sentidas e inventadas pelo bicho. ao contrário do dito pelo não dito, o mar é mais leve, o oceano é profundo e com mínimas - nulas, quase nulas - pressões. sem civilidade, sem contemporaneidade, sem tematizações. sem cadeiras, caixas, divisórias.
tudo o que de mais pesa é uma pétala que cai de lá de cima, que surge daqui de baixo, que se encontra no nascimento, e no morrimento, no meio, no antigo, no agora, pretérito e futuro, caminhos se miscigenando, uma não-linearidade de palavras que nascem morrendo. o tempo flui.
o que mais me dói de antes agora é a lembrança do que não sei - não vi! - se houve. eu estava numa concha, dentro dela. desde a superfície ao profundo até o eterno retorno: dentre todos os caminhos que eu passei por dentro. dentro de mim mesmo, descobrindo o que não posso ver, o que não posso tocar, mas posso sentir.

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