eu não sei explicar como eu me sinto a respeito disso tudo. na verdade, eu não sei como é que eu me sinto. não sei como explicar o que eu não sei se sinto. o que é tão tênue, tão misterioso e tão... singular. vem como num fluxo, um turbilhão de idéias que eu não sei se podem ser reais. tudo imaginação de minha parte. é um calor que chega por trás e agarra a gente pelos braços, deixando espaço só para respirar, ofegante, sem poder nada fazer, só tranqüilizar, compreender, entregar-se e, enfim, viver. seria?
não sei se ele entende. se eles entendem. sendo tão indefinível, como procurar ou inventar palavra que comprima tudo numa só moldura? quatro lados, fechando um quadrado, noventa graus perfeitos, fechando um cerco e enquadrando tudo o que vem a ser limite de fim. as coisas não são assim tão fáceis. a volatilidade do mundo é algo que assusta e assunta a mente e a boca. o humano é um bicho que pensa demais, não flui leve como as ondas do oceano. e, ao mesmo tempo, pode ser tão profundo como tal. bicho é uma coisa que não se enquadra.
e eu tento, mas tanto tento que desisto de tentar encontrar uma resposta que se encaixe perfeitamente nessa moldura dourada de quadro de santa. santo é o vinho que me oferecem todos os dias e eu nego, não por piedade, mas por auto-preservação. prefiro estar lúcido na hora de partir em dois. e eu continuo a negar as limitações, as imposições que são postas face à minha face: duras caras que se encaram, esbravejando de fúria e rancor, sem som, sem sentido, motivo. é o erro humano de contestar? não. o acerto é a coisa certa, pois é no contexto que se revela o sentido da frase narrada anteriormente por uma voz que surgiu de dentro, bem de dentro.
do fundo de tudo o que sai não pela boca, mas pela pele, transpirando não só água, mas tudo o que sai e volta e se recicla num ciclo infinito que recita um poema abissal. abismo é o que se enxerga - não se enxerga - no que eu tento falar. e o que eu falo por tentar falar não é o simples poema ou a complexa poesia da vida e do amor: eu falo de minúcias, pequenos detalhes que coletamos pouco a pouco no traçado de carvão exposto no corpo de cada um. uma gota de suor pode dizer muito mais do que a junção de três palavras inventadas com sentimentos egoístas. a invenção da posse alheia é o que de mais pior há e, dentro do meu campo de visão a olho nu, enxergo corpos nus de si mesmos, de uma verdade que não me era para ser vista. cada um deveria sentir a própria verdade no seu corpo nu, exposto ao sol ou à chuva, ao que de mais gelado há.
se por um lado o interior biológico dos humanos é relativamente quente, eu me resfrio ao olhar toda essa mentira e delimitação desmedida das coisas. é tudo tão artificialmente colorido que eu nem sei mais. nem sei mais o que dizer, inventar, criar para tentar expressar o que de mais íntimo me é. não posso falar do que eu não tenho certeza. ou será que posso? será que posso expor minhas visões e minhas incertezas acerca do mundo? será que posso me expor a um mundo que não conheço por completo e que não sei se me completa?
temo que não haja resposta para tal pergunta. o mundo é complexo demais para se fazer entender.
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