– as coisas não são, elas apenas estão, bernardo.
era uma coisa muito dura a se dizer. afirmar que a beleza é volátil, que tudo no mundo torna-se passageiro no momento em que deixamos de olhá-las é quase a mesma coisa que uma facada no peito. treze, para ser mais preciso, pois cada facada é uma abertura de olhos para o que nós não queremos enxergar. a gente se acostuma a ver tudo branco, branco azul, branco, e se esquece que existe toda uma palheta de cores, cores que a gente nem conhece, às quais nem sequer fomos apresentados. tudo porque alguns decidiram não denominar mais um planeta de planeta. vira cometa, estrela cadente, a rasgar o céu, a galáxia, com seu ódio de diminuição. mas, de que lhe serviria ter nome de coisa se ele pode não mais estar sendo coisa no próximo instante?
– tudo é tão etéreo que nem adianta rasgar um sorriso falso para a próxima estrela que passar, já que não haverá tempo para vocês se conhecerem. bernardo, querido, entenda que as coisas não foram feitas para nós, mas por nós. quem escolheu que cada coisa seria cada coisa não foi ninguém além de nós; nós não eu e você, mas todos nós, humanóides. a chuva, assim como a enxurrada, é passageira tanto quanto o arco-íris e, não querendo trazer um tom pessimista, acontece a mesmíssima coisa com a paixão. ou você ainda acredita na palavra das pessoas quando elas dizem que sempre irão te amar?
surgiu-me uma vontade imensa de tapar a boca com uma fita tão isolante que nem seres microscópicos por ali passariam. sua fala seria tão etérea quanto tudo o que existe no mundo. dizer que paixão é o mesmo que amor é tão falso quanto o sorriso que eu daria para a primeira estrela que passasse no momento mais inoportuno, num quarto de hotel dourado, com xícaras brilhando e me deixando muitíssimo incomodado. as coisas não foram feitas por nós nem para nós: elas sempre existiram.
mas as palavras somem quando estou com muita raiva na garganta. parece que tudo se contrai e nenhuma vibração consegue passar por ali. nada passa.
– benardo, não se iluda com as iluminuras do mundo. nem tudo o que reluz é ouro e nem sempre o ouro é mais preciso do que o diamante. às vezes nem o diamante é tão válido.
por um momento, pensei que não mais ouviria tristezas e desabamentos sobre mim, mas, como disseste, tudo é tão etéreo, assim como momentos de tristeza e de sensatez.
– a gente se ilude a si próprio, no maior anti-clímax já vivenciado e nem sequer há alguém para descontrair-nos desse cosmo-espaço que criamos apenas para fomentar nossas dúvidas. bernardo, querido, o mundo é de quem sabe viver. e todos nós nessa sala sabemos que você não tem a mínima chance de passar pelas frustrações que o mundo lhe colocará face-a-face. entenda, por favor, que faremos isso para o seu bem.
por que eu haveria de entender um tipo de atrocidade contra algo que eles mesmos inventaram?: humanidades. tudo isso é pura balela, coisa que ninguém mesmo entende motivo ou ternura. para esse tipo de coisa não há discussão e quem se opõe é tido como incoerente ou não-humanóide, um simples exemplo do que as pessoas não devem aspirar. cheirem o pó das mesas, cheirem o pó de si próprios, aspirem tudo o que é corrosivo e morram nas suas poltronas tentando me fazer compreender uma luz que não possui lógica. nem tudo no mundo é explicado por um 2 + 2 e tudo fica perfeito. existe coisa sem lógica, sem nexo, muito complexo e completo demais para a cabeça humana. o raciocínio lógico é só mais uma desculpa para uma dominação inventada por e para nós mesmos. mas eu disse apenas:
– por favor, não me chamem mais de querido.
que foda!
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