domingo, 1 de agosto de 2010

gota d'água.

eu nem me lembro se faz tanto tempo assim desde que eu resolvi começar com tudo isso e nem penso se isso foi bom ou ruim. as coisas são pelo que somos, e nada mais é além do que virá a ser para nós. talvez eu, na minha mediocridade mediana de ações, tenha pensado que seria melhor ir e não olhar para trás, buscar sempre aquilo que estava na minha frente, olhar através da luz e buscá-la sem um propósito fixo. fui frouxo na minha motivação e, hoje, não sei mais se agi de uma certa forma ou de uma forma certa. afinal, inversão de palavras é o que mais há nesse mundo de amores crudos. pode ter sido crueldade minha, mas, naquela época, eu desconhecia palavras e gramática normativa lingüística: tudo se definia para mim através dos olhos e bocas das pessoas e coisas. hoje, os reais significados, apesar de estarem num livro preto, não residem ali. as coisas, sim, mudam no devagar depressa dos tempos, inclusive o que eu quero dizer, disse e, provavelmente, direi. daqui a dois anos, é bem possível que alguma palavra que eu tenha escrito não signifique aquilo que eu havia dito. ou agora mesmo, palavras que invento ou deixo de inventar, que resignifico e construo de acordo com a minha percepção e perplexidade.
o fato é que eu não acredito mais em amor. e isso é duro demais, eu sei, cruel demais, também. mas as coisas são fatos concretos que nem sempre se assemelham aos objetos que podemos tocar. uma lágrima que caia do meu rosto pode servir de alimento para um peixe-espada e uma moréia pode se sentir mais feliz com a condutividade do meu rosto. se eu amoleço a minha face, deveria sentir, então, a dureza dos ossos e das cartilagens do outro rosto que tenta se encostar - e se encontrar - em mim. as mesmas coisas, seladas num só, compactadas que nem pó de café, representam a infinitude e a complexidade dos olhos esbugalhados de uma face de menina singela. ou a dureza dos ossos de um menino magrelo, que pode dizer um sim em inglês e um não em coreano. as palavras não mudam, elas se trans-recombinam e transmutam de acordo com a nossa caneca, metade cheia ou metade vazia.
por isso que, quando um pingo de chuva cair no centro da minha testa, aí sim, talvez, eu realmente descubra o que eu tanto procuro.

2 comentários:

  1. "naquela época, eu desconhecia palavras e gramática normativa lingüística: tudo se definia para mim através dos olhos e bocas das pessoas e coisas".

    prenderam-se a mim essas palavras, porque faz referência a um tempo que eterniza um modo tão peculiar de ser. tanto tempo decorrido, tudo ainda se define através de olhos e bocas, presa que estou ao de dentro.

    quanto ao amor e ao tempo, e o que suscitam de fé e descrença, penso que toda busca legitima os instantes.

    aproveito para linkar o blog. :)

    até,

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  2. aí uma gota de choro corre na minha bochecha

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