o sol disseca a minha pele aos poucos, à pouca exposição à qual eu me disponho todo dia. enquanto eu ando, afetado pelo sol, não sei se o que penso é realmente uma luz ou se é só o reflexo de algo que não vejo onde está. minhas roupas já não cabem mais: cresci. e muito, bastante, desde que me entendo por gente, desde que uso minhas mãos para produzir algo, mesmo que seja uma folha de papel em branco. do pouco que pude prever, senti a falsidade dos dedilhados e as lágrimas que rolariam a cada rabisco de tinta preta. em cada gole que pude sentir, o refrigério de um tempo passado que nunca mais voltaria, nem através das canções rememoráveis dos tempos de criança. minha
crescência marcaria para sempre em mim a mudança drástica do tempo: desde os pés até o topo. o coração, que pouco muda pela tonalidade, mas mais pelo pulsar, aviltaria a minha
persona non grata dos meus tempos, e a
quintessência que dizem por aí existir perder-se-ia da possibilidade de se ter em mim, lá. o que pus na mesa foi o suficiente para sacudir minha própria poeira: tinta e papel - tudo o que se precisa para uma vida sem prescrições nem remédios. do pouco que eu tentei remediar, deixei para trás aquilo que sabia que não me faria falta no frio ou no calor, uma vez que minha pele quase se sente hansênica. sinto muito pouco daquilo que me é dado pelo exterior e o meu interior borbulha ao mesmo tempo em que derrubo a taça de água que deixei no chão, sob meus pés trêmulos e não tão endurecidos. sempre preferi andar descalço, mas o chão me ensinou que de duro já basta o viver.
llorei,
llorei por tudo aquilo que disseram ser impossível ocorrer e que, mais do que a vontade do meu coração, a vontade do meu
corpoealma sentia. aqui, nessa insularidade em que me pus, senti nas veias abertas todo o sangue desoxigenado que recebera pela aorta central da minha pequena existência de menino-elefante. é como se, por não ter o dom de ser formiga, isentasse-me de tudo o que não posso comer com patas e, ainda assim, ter de me alimentar por uma terceira via, uma
quintapata. e, daquilo que eu não pude mais, decidi viver por lá, assim, que já não me incomodaria mais o vento entrando no olho e não no corpo, já que sobre o sangue derramado não se joga leite para que envelheça de podridão. o intuito seria, então, renascer? pois que não sei dizer. do pouco que eu sei, foi que, assim que se fez a notocorda central do meu existir, eu apenas vi aquilo que me vinha: se me esquecia, não acreditar seria a junção de ordem do meu destino, o meu norte-sul, e, para o meu leste-oeste, o meu próprio existir e o meu caminhar sobre pedras quentes. se o que me dói não é conhecer a luz do dia, talvez seja saber que, por uma fração de segundos, não poderia nunca mais ver e, uma vez conhecida a verdade, nunca mais teria a coragem de morder o exoesqueleto de um ser que dá arrepios profundos em grande parte da população humana: a vida.
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