será existir apenas uma questão de estar no mundo? às vezes eu me pergunto se Ester tem os mesmos questionamentos que eu. às vezes eu me pergunto se o que eu tenho são realmente questionamentos ou perguntas bestas de dia-a-dia que ninguém tem mais paciência para responder pela trigésima-nona vez. e eu não me sinto criança: uma criança tem tudo nas mãos - a terra, a palavra e o som. eu não tenho mais nada, cresci e perdi a minha inocência antes dos quinze. quantos anos se passaram? três? parece que foi muito. parece que eu não sou mais eu mesmo, que eu não sou mais criança do meu eu-criança. e não é vontade de voltar no tempo, que passado não se reconstrói, nem se revive. será o eterno retorno? eu tento até rir de minhas piadas, mas elas não tem tanta graça aos dezessete-quase-dezoito. é pouco tempo de vida mesmo? será?
às vezes eu me pergunto quando foi mesmo que eu perdi a minha inocência. se foi mesmo antes do quinze ou se foi hoje mesmo, nesse segundo que passou. eu estipulo uma data, todos estipulam horas e minutos e segundos e milissegundos e mais. se o tempo fosse água, seria mais fácil se deixar incorporar. se fosse saudosismo, eu me encheria de urânio, não sei, chumbo talvez, se minha estabilidade fosse comparável. mas não. meu corpo tem um peso que não se aumenta com gravidade nenhuma, mas por conta mesmo da sua matéria, sua essência-prima, se é que isso existe.
se isso existe, estarei eu num mundo meu ou que me foi construído? serei eu mesmo eu? eu nem sei mais do que falar, escrever, no que pensar. se falta água é só buscar, mas de nada adianta dar alguns passos e apertar um botão que pode despejar água numa determinada temperatura ou gelo no ponto de grudar nos lábios. tem tanta poesia na tecnologia avançada e o que eu vejo que falta é o corte seco no que enxergam como avanço. eu enxergo dessa forma também, será? será que não estou também limitando meus objetivos apenas ao ato de buscar água numa geladeira de quase-última-tecnologia-não-mais-última-porque-agora-mesmo-acabaram-de-criar-uma-nova-que... que eu nem, nem sei.
queria poder caminhar nas pedras sem escorregar, sem sentir a dor e o sol queimando minha pele. queria poder ver além e aquém da luz visível. mas será o aquém mesmo abaixo do aqui, muito abaixo do além? o que é em cima ou embaixo? pergunto-me se não é muito pouco. e eu paro para arrumar meus óculos. paro até de respirar. e eu poderia mudar de nome. mas para quê? eu me pergunto: para quê? para quê parar para arrumar os óculos, para quê parar de respirar ou para respirar? nada disso faz tanto sentido quanto continuar perguntando sem obter resposta. nem isso faz tanto sentido assim. o que faz sentido? é justamente o que não sei. eu nunca vi o tal sentido da vida, nem o cinco-linha-três-linha. nem verei; é muito pouco para meus olhos, é muito pouco para meu cérebro e para tudo o que comanda a vida. e - sim, sei que já estou me tornando inconveniente - será que realmente algo ou alguém (o que não deixa de ser algo) rege isso tudo como um maestro? será que a vida é uma sinfonia, uma harmonia? será que eu toco o piano? ou será que sou o próprio piano? tudo é tão relativo que eu não posso mais continuar a me martirizar com essas questões tão pequenas e tão grandes. parece confuso? porque é. ou não é, eu não sei. tão pouco sei que o que eu sei é que não sei. nada.
desculpe, eu não queria citar sócrates.
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