deitei no chão e o meu rosto se deslocou para a direita. procurei juntar as pontas dos dedos sobre meus olhos cansados, mas não havia mais. um buraco profundo havia se instalado onde outrora eu enxergara que a vida vinha vindo. não obstante, não me assustei. quem já pisou no abismo uma vez, não tem muito mais sentimento pelo que não lhe é. aliás, talvez nunca me tenha sido. nem por um instante, nunca foram meus. como lembrar-se da chuva de pingos quando nunca sequer habitei uma sala de espera? sala de estar, sala de espera, é tudo tanto faz: tem sempre plantas a serem sufocadas pelos olhares invejosos da falta de saúde. por isso mesmo, deixei-me deitar não no centro, mas num ponto que não defini e nem sequer medi. de que importa a minha localização quando eu posso não estar aqui? digo, num sentido mais impalpável, como se alguém visse quando outro alguém pousa a mão no meu ombro e, depois disso, os mosquitos vêm, mas nada que me impeça de respirar silenciosa e profundamente. e eu tento deixar tudo na escuridão, apesar dos traumas da vida. mas o branco também vem e preenche tudo que é espaço, regando e rasgando com gotas translúcidas, fazendo aquele som de xilofone, tim-dim, e a dor de cabeça me vê. como se na velocidade da luz, esse feixe me atinge em cheio e infinito, fazendo de mim aquilo que eu não sou. eu precisava ir, e não ficar. eu precisava deitar, e não rolar. eu poderia sorrir, mas não vou. o que sinto não é tristeza. nem palavra, nem verdade é. aliás, nem sei o que é a verdade aqui nessa dimensão sem olhos. "onde estou, quem sou eu?" não são perguntas de duas respostas, mas duas respostas para uma pergunta mais que inverossímil. eu posso dar a desculpa desse sentimento que se esvai, essa coisa um tanto quanto fugaz. eu posso fazer, de mil, um e, de um, mil, mas nunca serei dois. nunca poderei três. o um está presente e permanente em minha existência. pois, assim, junto as palmas das mãos e não oro para quem me ensinam, mas mergulho dentro de mim, à procura daquilo que talvez eu seja, uma barra de sementes grudadas por uma substância viscosa, quase vermelha. eu sôo como um pedaço daquilo que sou; eu me desloco e me descolo em partes, mesmo quando não peço, mesmo quando não quero. eu sou independente de mim e mim é independente de eu, como se meu pé esquerdo se apoiasse na pedra no meio de um rio bravio e o outro se sustentasse em meio a uma cidade de concreto, pedras domadas e quadrificadas, pois sempre o direito. lembra de quando roubaram o perfume das flores? talvez tenho sido mais ou menos por aí, assim como quando ouvimos as simbólicas três batidas nas portas dos nossos quartos e pulamos as janelas à floresta que se sustentava atrás de nossos corações. a fuga é inevitável e o sonho é, talvez, a coisa mais preciosa que tenhamos em vida e morte. eu sonho, vivo ou morto, vivo e morro; eu penso, mas eu não existo. eu não existo porque eu sinto. eu não existo porque nunca senti, porque sim, já senti, porque já tive sentido ou já fiz ter sentido. eu não sei sentir, não sei o que é estar cansado de ouvir, não sei que palavra é essa de que tanto falam, dia e noite, noite e dia, e nas tardes, é aquela palavra, aquela que não se cala, aquela que querem e não sabem se tem, que se sofre por, que se tem porque a vida se faz ter sentido e se faz sentida, porque a vida é isso, não é isso, será isso, eu não sei o que é isso. o que é isso, essa coisa que chamam de.
Para ser sincera (e eu acabo sendo sempre), eu teria que ler mais duas vezes para pegar o fio da meada direitinho.
ResponderExcluirComo quando você lê um texto de filosofia e só absorve o estado de espirito do autor e não o que ele gostaria de dizer. Meio assim.
Você sabe...é muita confusão dentro de uma mente pensante...e embora vc diga que não sente, ou não sabe sentir, você sente muita coisa. Só uma pessoa tão Pensante Sentimental escreveria algo assim...dessa forma conhecemos as pessoas. Espero.
Isso me chamou atenção: mas mergulho dentro de mim, à procura daquilo que talvez eu seja, uma barra de sementes grudadas por uma substância viscosa, quase vermelha.
Isso é empirico? hehehe