sexta-feira, 6 de maio de 2011

Do nada, se fez o tudo. Ou será que veio de alguém, uma ou mais mãos divinas, quem sabe? Até que se saiba, acreditaremos apenas que nasceu, e nasceu fazendo barulho, tentando abrir os olhos e se deixar cegar pela luz branca ofuscante que queima as córneas assim que traumatizamos ao nascer. O primeiro passo é a primeira respiração, e a gente a ouve de perto a longe. Inspirar bastante o ar que paradoxalmente limpa e suja o nosso corpo do viver ao morrer. Depois são os tapas, as quedas e os sons do corpo, o molhar o rosto e as gotas remanescentes que brilham em diversas cores. Uma bolinha, um montinho de gente, um útero ou apenas o planeta Terra – que, pra falar a verdade, nem é tão redondo como andaram dizendo pra gente até algum tempo atrás. Somos pontos, afinal. E vamos, nas correntes do vento, formando bolhas e bolhas para tentar proteger aquilo que é minimamente nosso: nosso espaço vital. Alguns passam, outros ultrapassam, e outros nem. Nem chegam perto. Repulsão completa, e a gente vive a procurar os porquês, e tenta se encaixar no que não cabe, acredita no que não deve, pensa o que dizem que não, faz o que deveria e o que não, e faz você mesmo, e deixa os outros fazerem, mas continua a buscar, correr, o tempo passa rápido, o tempo não acalma, o tempo passa depressa. Vai, corre. Vai, vai, devagar, devagarinho, que o tempo se acalma com o tempo, enverga o suporte, entorta a gente e só nos resta repousar. Repousar e pensar “O que é que eu tava procurando mesmo? Nem sei.” De tanto procurar fora, esquecemo-nos de procurar em nós mesmo aquilo que nos define por “nós”. E o que somos nós, eu me pergunto? O que são “nós”? Nó na garganta, nó da orelha, milha náutica, mais de uma braçada, o meu braço cansado, cansado de remexer nos outros, procurar o distante, encarar a face do outro e tentar pôr em mim, repetir o que ele fez, o que eu vou fazer, o que eu li, e tudo faz parte da minha partitura corporal. Somos música, afinal? Somos pequenas coisas, pequenos sons, montinhos de gente, quem sabe, a bater uma asa aqui e gerar uma explosão de lava lá no meio do oceano, numa ilha que brota no meio do oceano, único lugar onde não procurei meu sapato. Será que foi para lá? Será que eu deixei meu pé congelar na imagem do transposto e no transverso do que eu mesmo sou projetado num espelho que reflete todas as minhas cores? E meus nomes? E meus “eus”? Sou mais de um? Sou “nós”? Penso comigo mesmo se sou um ou vários, discuto comigo mesmo, ouço os meus demônios e o inferno não é em Vênus. O inferno é aqui, nessa pressão atmosférica. Quem agüenta uma coluna d’água por sobre que se arrisque a mergulhar alguns nós. Mas volte, volte devagar que é pro nitrogênio não despressurizar e formar mais bolhas, bolhas nas suas veias, em suas artérias, impedir esse fluxo que te mantém vivo, essa correria que te faz procurar pelo que te falta, pelo 36 ou 37, o que caiba, o que te faças ser tu mesmo. Pule os obstáculos, viva e morra constantemente, não deixe de ser “nós”, não mude para voar longe, fique aqui com a gente e voe aqui com a gente, corra com a gente, ouça com a gente, crie e harmonize com a gente, que aqui é o nosso aquário, nossa própria bolha, nossa bolha de cristal.

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