eu volto ao canto escuro do que me criou. puxo uma cadeira, sento e cruzo as pernas. nenhuma luz acesa, mas eu não preciso de luz para enxergar o nada. do tempo das minhas lágrimas, aprendi a enxergar silenciosamente constante. no brilho fosco do vagalume que rodeia a maçaneta, enxergo a lua que, de uma vez por todas, insiste em entrar triunfante com seus cavalos alados nas memórias da minha cabeça. o meu passado me pertence, penso em dizer à lua. mas ela não me ouve, mas eu não me ouço. abro a boca, mas nem sequer abro a boca para produzir som. sinto, mas não faço. faço, mas não faço. como posso controlar o compasso das minhas pernas se já nem sei se posso fazê-lo? é uma noite escura e um ponto brilhando no céu. não, não é lá longe. é perto, mas a porta. a porta bloqueia minha visão. tapa tudo. tudo dói. e eu não sinto nada. porque não vejo. porque não faço. porque não sinto. estou aqui?
você está aí? me pergunto se existe alguém do outro lado da porta. queria saber, quero novos rostos, querem brilhar não só pra mim. quero romper o espaço, viajar mais do que anos-luz e despedir-me do sol. sim, sou capaz. sei que sou. o sol me abastece, não nego, mas sou capaz de brilhar por mim mesmo. do que adianta meu nome, então, sereno? sou luna, de luz própria, que refesteja as próprias crateras como marcas de um passado colisivo. se eu sumo pela manhã, é porque é meu tempo de dormir. recarregue suas energias, disse alguém antes de eu nascer. quando eu nasci, enfim, pensei que estivesse lá desde o começo. desde antes da palavra ser criada. desde antes de existir uma porta fechada. tem alguém do outro lado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário