sábado, 14 de abril de 2012

eu não, eu não sei bem. não entendo o que está acontecendo. se sou eu, se são os outros, se somos todos e se não é ninguém. ninguém tem culpa de nada e tudo fica sempre assim. sempre. mas pra mim não dá mais, não dá mais para suportar uma falsa paz, uma falsa calmaria, numa cidade falsamente feliz e falsamente ensolarada. eu quero a minha chuva também, verdadeira como sol, necessária como o sol. eu quero o olhar triste e as nuvens cinzas, eu quero a verdade nua e crua. eu não quero o acarajé e a farofa, também não quero o bolinho de estudante, não quero o pão de queijo, o pão delícia, a feijoada, o bacalhau, eu não quero nada disso. não quero nada que me defina, que me refina, que me prenda. quero um gorro de frio sem ter de ter cara de friorento, de coração de gelo, de intelectualzinho de merda, óculos hipster, gênio dotado, superinteligente, super, super. por que as pessoas se prendem tanto ao que eu escrevo? por que eu tenho tanto cuidado em não ferir? por que eu me preocupo tanto em buscar as palavras, em rebuscar as palavras, em rebuscar a frase, em buscar o significado, em buscar compreender e ser cuidadoso, em ser carinhoso, em ter uma relação com as pessoas que eu mais amo, que eu me dou bem, dou certo, por que, ao invés disso, eu não compro flores vermelhas, pétalas azuis e copos-de-leite? por que eu preciso estar preso feito cedilha no cê? também posso querer tambor? posso querer ser poliglota sem ser poliglota. tenho de fazer sempre o negro gato para quebrar esse vidro que as pessoas colocaram em minha face, essas gafas peruanas de vidro, essas tintas transparentes, bermudas listradas e cara de eu-não-sou-daqui-não? sinceramente, eu cansei de ter de ouvir tudo e consentir. posso me rebelar também? quero gritar, e quero gritar da minha forma silenciosa, sem légrimas, sem tréguas, sem réguas, falar coisa sem sentido, andar descalço e pisar em vidro sem cortar o pé. eu também tenho o direito de andar sozinho, de andar acompanhado, com mulheres, com homens, com crianças, com cachorros, com gatas, com galos e galinhas, cuys, periquitos e papagaios. arranho a parede pra saber se isso vai ser possível e tudo o que eu ouço é o som oco das paredes não preenchidas. meu sapato fechado, machucado pelo vidro de formal quebrado, a medusa morta que se estendeu no meu pé, a pinça que furou meu olho... eu quero que tudo isso seja real e se faça presente. eu quero me ferir e, também, por direito, poder ferir. quero faca de dois gumes, de um só ou três. très, très bien pour moi. eu quero o gosto amargo de um amor antigo, uma fantasia desrrealizada em um mundo inventado por pinguinos, por girafas e por tudo aquilo que é bacana. supér. eu não quero mais ter esses raios ultravioletas cortando a minha cara às sete da matina. eu não quero dar e receber. tudo é tão selvagem que eu... que me dá vontade de correr, e correr o mais longe possível do zoológico. eu quero a selva livre, cada um por si, eu por mim mesmo e por todos que eu sou. quero segurar uma mão, quero soltá-la, mordê-la e reconstruí-la. se você tem alguma dúvida, me pergunte. eu não tenho mais respostas, eu não sou um glossário. mas eu posso passar a mão no seu cabelo mais uma vez, dizer que está tudo bem e fingir que nada aconteceu. mas, a partir de agora, saiba que, se eu quiser, eu também posso esbofetear. minha cara vermelha, já roxa, ultrapassou os limites da pele e o cerne está não no cérebro, mas no coração que não pára de bombear sangue. sangre divino, você não me pertence mais. eu quero o vinho, o vino e o vin. eu quero o pisar despreocupado de uma tarde sem sol, de uma manhã sem cor, de um céu sem estrelas e, da a preocupação constante de uma tarde sem vento, não quero vestígio existencial. quero meu 0-800-angústia longe do paraguay, quero viver nos andes e quero morar no coração de quem puder me acolher. libertar-me das convenções pré-estabelecidas do plano-de-vida. não sou tabela, não sou planilha e nem quero ler esse manual recente de como mexer no microsoft excel. que a topografia terrestre se amolde sem minha análise e que eu possa somente observar sua beleza geológica, suas microplantas, seu micromacroamor. meu micro, meu macro, meu amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário