eu não estou bem. posso parecer em alguns momentos, mas não. não sei se intento o disfarce, mas não consigo sequer cogitar a possibilidade de enganar a mim mesmo. eu tenho, no entanto, enganado a mim mesmo. sei que soo contraditório, mas o que se pode fazer? não posso pôr máscara no rosto que se auto-observa. posso mudar de língua, pensar em inglês, espanhol ou até no mínimo de francês que sei. posso me chamar de mentiroso, mas como seria isso em outro língua? ou, melhor, de que adianta saber outra língua? para me chamar de mentiroso? para quê, se eu entendo em claro português? eu não consigo me compreender mais, eu não consigo mais deixar isso flutuando na minha garganta. um dia, hoje, isso iria passar do dente. pelas frestas. eu não posso mais suportar o sol tentando derreter o que há dentro. eu não posso mais manter o choque de temperatura. eu tenho de fazer algo. sei que não adianta de nada escrever, mas não o faço para que outros o saibam. tenho que assumir a mim mesmo. não sou feliz. felicidade não é uma coisa que se é: não estou feliz. posso sorrir, mas isso é fácil. tenho músculos, tenho nervos. sim, tenho nervos. tenho paciência e tenho muita dor de cabeça. não posso, não quero mais suportar. ficar pseudo-sofrendo? quem sou eu para dizer o que é a dor? que desculpas eu tenho para dizer que sofro? uma família estável, comida, casa, roupa lavada, livros, filmes, música, um computador, estudos... de que serve tudo isso? para dizer que somos estáveis? para podermos reclamar mais? não quero entrar no mérito de que tem gente que não tem nada ou que tem gente que tem tudo e quer mais. não é esse tipo de coisa. não é esse o problema. a culpa é minha. sim, é minha. eu escolhi onde eu ia pisar, aonde eu iria. e fui, e sou teimoso, e quero ir até o final. mas será que estarei eu certo? será que devo voltar e trilhar outro caminho? meu medo nem é esse. voltar é fácil. sacrifício não é a palavra. o problema não é esse. eu fiz minha escolha, eu quero continuar. decidido. eu quero descobrir o que eu gosto. no futuro. decidido. futuro decidido? não. eu sei do meu futuro? não. sei o que quero pro futuro? não. é esse o problema? não. qual é o problema? será que será esse, talvez, o problema? qual é o meu problema? é caso de psicólogo? é caso de remédio, talvez? é caso de criação, personalidade, falta de amigos, antissociabilidade, solitarismo ou palavra que não existe? será que isso realmente existe? é só coisa da minha cabeça? é, é só coisa da minha cabeça. mas de que vale essa resposta? de que vale saber, afinal, qual é o problema quando esse não é o problema: a resposta? eu não sei direito o que eu estou sentindo, se é inércia, angústia ou frustração. será falta-de-saco? será preguiça mesmo? desgosto? depressão? excesso de falta de psicotrópicos? más escolhas, talvez. sim, não estou satisfeito. não é produtivo faltar às aulas. não é certo faltar aulas só porque não se gosta da matéria. eu sabia que teria de enfrentar matérias que eu não gosto e, acredito, foi justamente por isso que eu escolhi. sim, desafio foi a minha palavra no vestibular. ok, o vestibular não foi um desafio. o desafio é agora. será que estou me deixando vencer? não, creio que não seja isso. mesmo se for... eu escolhi ir até o fim. eu tenho algumas pequenas coisas com as quais eu quero trabalhar. sei que o espaço e local não são aqui, mas acredito ser esse um não-empecilho, mas um empurrão. eu não gosto daqui, trinta vezes disse. mas porque é necessário todo esse chicoteamento? porque eu escolhi assim? eu não sou masoquista. nem metáfora, nem literal. minha escolha é no fim, disso eu sei. o que eu quero não é daqui a um ano. é daqui a sete. e isso pode ser chamado de sofrimento. pelo menos para mim. enfrentar matérias que, sim, são superbacanas, mas que o método de ensino utilizado e difundido é uma porcaria é sim, pelo menos para mim, uma espécie de tortura. seria muito, muito mais fácil eu escolher algo que me diverte, mas eu assumo para mim mesmo que não significa necessariamente a melhor escolha. o caminho mais fácil não é, necessariamente, a melhor escolha. eu poderia trabalhar com o teatro, sim sim. mas eu não quero estragá-lo para mim. eu tenho esse comportamento de tentar manter o que está bom num patamar de eternidade, de perfeição. brilhando. irretocável. e, mesmo que ultimamente outros tenham quebrado esse vaso de cerâmica chinesa em mil cacos, eu não, não posso levantar a mão para destruir meu altar. não quero ter de usar super-cola e, assim, enxergar através dos buraquinhos que restaram. é o meu defeito. ou, melhor dizendo, um dos. não quero pôr a culpa em ninguém, ninguém furou os olhos do assum preto. por que é tão difícil assumir que a mão do outro era a sua? porque é. sim, é. por isso, não quero. assume, preto, talvez. de que adianta ficar cantando-triste? por que não ativar a pró-atividade e levantar a bunda da cadeira, fazer algo produtivo ao invés de ficar reclamando? por que será que é tão difícil assim? porque não é simples assim. assim como essa resposta não satisfaz ou responde nada. só diz que não é simples. e nada o é. assumir não é fácil, mas, ok, dei o primeiro passo. a culpa é minha. isso pode ser considerado um primeiro passo? e se for? de que adiantou pôr os sapatos? ok, sapatos pretos, amarrados, combinando com a meia, lustrado. sim, impecáveis. adianta de algo? serve de algo? eu não vou usá-los. meu trabalho é na areia, cortando-me com os corais. e é mesmo? eu quero ver os bichinhos, sentir o veneno entrando nos meus poros, alcançando minha corrente sangüínea. os tentáculos inoculando as minhas dúvidas, a cegueira atingindo o meu ser e, enfim, caminhar sobre a água. e, no fundo, não é nada poético. porque, no fundo, eu sei que eu sou, sim, um intelectualzinho de merda que diz um monte de besteira, lê um monte de besteira, que acreditou, profundamente, que a vida era bela aos 15 anos. pensou que seria bom viver para ver o que pode haver ou se fazer. de que serve isso? para quê? e não é porque eu estou numa gaiola. e não é porque eu estou sentado. eu não quero mais soar profundo, mas se soar, que se dane: pra que serve isso tudo? não quero motivo existencial. tampouco resposta. mas simplesmente soltar a questão. porque título não identifica nada, mas o meu se encaixa aqui, como fórmula de compreensão, como tema, como razão, sendo que eu não preciso, verdadeiramente, de razão ou título. do que eu preciso, então? eu não quero saber. porque não existe melhor resposta do que o silêncio. de que serve chorar ao escrever essa porcaria existencial? para os outros aplaudirem o quão profundo eu sou depois? para dizerem que eu mereço um prêmio por saber escrever? para corar a face quando receber o elogio? para não corar e ser entendido como metido, como intelectualzinho-convencido-de-merda? que merda é essa? por que raios é tão deselegante xingar num texto, numa fala verbal? pra quê saber escrever? para quê, enfim, saber escrever, ler, pensar, comer, vestir-se, conviver, viver? ... ou, mais terrenamente, para quê ver o que há e pode ser feito? sim, falo daqueles mesmos maravilhosos livros, filmes, músicas e belezas naturais de quatro anos atrás. para quê? o que é a luz e o que é a escuridão? o que é ser descrente da vida? como é crer na vida? o que são os opostos: o bom e o ruim? o claro e o escuro? chiaroscuro, mais uma palavra para o grande vocabulário, posso dizer, inútil da vida? palmas, palmas. mereço um prêmio por ter mencionado uma técnica de pintura muito utilizada no estilo barroco. meu deus, mereço mais palmas ainda por ter explicado. meu deus, que grande intelectual eu sou! mas que merda eu sou! palmas, mais palmas para a merda que eu sou.
agora é a hora que eu recebo o oscar de melhor atuação, afinal, nada mais dramático do que encenar a própria vida. e para meu discurso, digo que eu preferiria enfiar uma faca no peito, mas a sinceridade é tão fraca para o que é realmente real... prefiro continuar vivo, para continuar a ver as bmelrdas maravilhas da vida. e tentar suportar a minha ironia quase insuportável. obrigado, mãe, pai... a todos, boa noite.
e para quando estiverem passando os créditos, eu quero essa daqui:
http://carneebatatas.tumblr.com/post/22406278044/artist-marina-de-la-riva-track-assum-preto
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