sábado, 19 de maio de 2012

o que eu levo na sacola.

eu realmente queria poder chegar e abraçar alguém com a maior força e sinceridade do mundo. mas eu simplesmente não posso. não porque esse alguém me machucou ou porque eu me sinto tão indefeso agora que... não é nada disso. mas é que eu sequer posso suportar a idéia de fingir sentir algo que eu não sinto. para que forçar um sorriso, um sentimento que não vale a pena? não quero criar situações de sutiãs se abrindo e bocas se fechando, não quero aqueles momentos de memento. já não basta fingir para mim mesmo que eu estou bem, que tudo o está? encontrar o laço talvez não seja a coisa mais fácil e, talvez por isso mesmo, eu necessite sentar um pouco na poltrona antes de mover os pés um pouquinho para frente e avançar num caminho bastante incerto e inseguro, pelo menos para um pessoa que, assim como eu, tem essa coisa intrínseca que deve ter nome patológico, mas que pouco importa. pouco importa, no final, o meu sabor de sorvete preferido, o meu filme francês ou a música que ouvi mais vezes. não são braços falsos que vão me segurar firme num mundo onde as asas são podadas a cada recém-nascido instante. e não é questão de querer voar como um bebê maravilhoso, uma criação da natureza que não se explica, mas apenas uma necessidade intrínseca, uma coisa que deve ter nome patológico, mas que eu prefiro chamar de "eu-não-preciso-sair-de-casa-num-sábado-à-noite-para-me-divertir". chamem-me de anormal, de hipster, de seja lá o que for. eu não me importo, ou melhor, eu me importo com muito mais do que isso, com coisas que não se alcançam num sábado a noite, num boteco na esquina, num copo de cerveja e muito menos num livro de filosofia. pode ser sentimento que não cabe no peito, mas o que eu sinto é mais do que esse mundo. eu quero ir-me embora, isso eu quero. pode ser ambiental, pode ser de mim mesmo. pode ser das sementes de melancia que carrego há quase dois anos e também do estojo com adesivo de mulher-maravilha. pode ser um trilhão de coisas ou pode ser uma faísca que acendo na boca errada do fogão. a chama pode estar mais embaixo, o saco de pipoca pode não estar girando e o que falta, talvez, seja avançar a barreira do 4 insistente e tentar, tentar, tentar até conseguir. não é assim que se criam asas fora daqui? eu penso seriamente se serei capaz de suportar por mais tempo, mas talvez não seja esse o caminho mais certo. talvez não haja, também, caminho errado. talvez eu tenha posto os sapatos errados, aqueles que não são antiderrapantes e mancham meus pés de tinta verde quando chove. posso ter feito as piores escolhas, mas são elas que me definem e me afirmam, por mais discurso-de-minoria que isso possa soar. se eu posso sonhar mais baixo, por que não caminhar 3.297 km, como indica o Google Maps? seriam só 28 dias, 8 horas, tempo cronológico que passa mais rápido do que isso aqui. é um bom tempo para repensar, para ser cuidadoso ao enfrentar um caminho que pode não ter calçadas ou caminhos para pedestres. sim, eu escolho cortar o meu pé com caco de vidro. melhor do que o pulso, não? não, eu não seria tão estúpido. não que eu preze pela maravilha que uma vida pode ser, mas um ato tão danoso deveria machucar aquele quem o faz, não aqueles que vivem ao seu redor. a gente é tão dependente que, às vezes, me dá vontade de sair correndo e não conhecer mais ninguém. será que alguém pode me responder por que raios nenhum ser humano pode ser uma ilha? quem disse isso tinha o que em mente? deixar o sangue estancado por debaixo das minhas unhas? quebrar a minha clavícula apenas para que eu aprendesse uma palavra nova? por que não me presentear com um dicionário no suposto dia mais importante da minha vida? por que deixar-me com reclamações? por que me deixar aqui, sozinho, dependendo de quem eu não quero e que, quando eu quero, não tem? não quero soar ou sonhar fatalista, emburrado, melancólico ou patético, mas eu cansei de só pensar em mim, de só eu pensar em mim, de só eu agir por mim. porque, por mais que digam, eu não sou esnobe: eu sou míope. se eu te ignoro, é porque eu não te vejo. se eu não te respondo, é porque não ouço. não, não grita no meu ouvido. mas me dá um abraço, me pede desculpas, me faz chorar e dança comigo ao som do piano que eu ainda não aprendi a tocar. porque sim, eu posso aprender a perdoar. mesmo que quem tenha me machucado tenha sido eu.

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