sábado, 29 de setembro de 2012

como vapor.

eu não quero mais fingir que está tudo bem. porque, não, é óbvio que não está. e não é só o meu eu-lírico que tem se tornado um tanto quanto depressivo, não são apenas as músicas cada vez mais tristes que eu tenho escutado nem o café cada vez mais sem açúcar que eu tenho tomado. é uma questão de chorar até dormir e querer prolongar aquele sentimento e, enquanto isso, pensar em como será o dia seguinte, como será possível acordar e continuar fingindo que nada daquilo aconteceu na noite anterior, como se fosse fácil viver e esperar. porque eu cheguei ao ponto de mudar a letra de uma música enquanto a mesma tocava, porque eu cheguei ao ponto de responder não a uma canção esperançosa. eu não quero me vangloriar de nada, mas, por isso mesmo, eu não tenho nada para fazê-lo. eu digo que o que eu mais quero é fugir e eu sempre fico agüentando tudo o que jogam por cima das minhas costas como se o meu fardo e destino fosse suportar o mundo ao meu redor. e eu venho dizendo cada vez mais que não agüento e eu sempre agüento, como se eu fosse alguma espécie de pessoa super poderosa, uma pessoa que suporta tudo. mas minhas bases sólidas têm se fragilizado bastante, disso eu sei, isso eu ouço cada vez mais freqüentemente à noite ou em momentos cada vez mais frágeis, nos quais eu quase não consigo segurar a derrapada até o fim da montanha. talvez meu destino seja ser triste, mas até quando? porque se a única coisa que me diz para esperar é uma música antiga, eu deveria pensar mais em mim e menos nos outros. o que sempre me vem à cabeça é até quando eu vou suportar isso e sobreviver. porque é sempre pelos outros, pelas pessoas da família e não por mim. porque, querendo ou não, eu sei que existem pessoas que devem ter um mínimo de sentimento bom por mim, pessoas que eu não quero deixar tristes ou desestruturadas com uma "partida repentina e forçada". porque, como eu já devo ter dito, eu não me vejo morrendo naturalmente aos oitenta ou mais anos de idade. meu destino é morrer cedo. mas eu adio esse destino cada vez que penso o quão doloroso é um filho morrer antes da mãe, o quão doloroso é um cargo de irmão-suicida. porque suicídio ainda é uma palavra muito forte -- e acho que sempre vai ser. porque o uso da palavra depressão ainda é muito descabível, porque é sempre descabível quando não vem da boca de um médico especialista. porque eu me acho muito pequeno em comparação ao que é, de verdade, sério. eu me comprometo cada vez mais com uma vida que eu não quero viver, pelos outros, pelo que os outros terão de carregar. e o peso que eu carrego, meu próprio peso? a solução é emagrecer, então e, no mínimo, morrer jovem e bonito? não, o mantra disso é outro, é viver rápido. e eu, na minha lentidão, tenho uma pressa de planta. um pressa que desconsidera o que chamam por aí de felicidade pelo simples -- e também complexo -- fato de eu não acreditar. não é bem questão de desesperança ou desestruturação psicológica. porque se eu quisesse sofrer, eu já teria aprendido a auto-infligir dores. meu problema é que eu não quero escapar de verdade. eu, como todos, quero uma perfeição que nunca será atingida. eu quero uma calmaria, uma tranqüilidade eterna que só é encontrada na morte. em vida, tudo é difícil demais para se suportar e ninguém ajuda, ninguém se ajuda. uns são mais importantes do que os outros e o eu é sempre mais valioso. primeiro eu, você nunca. porque eu sei que a vida de cada um é sempre mais importante e também porque eu não quero jogar meus maus problemas para o céu e esperar que alguém o pegue e monte o quebra-cabeças e me mostre o caminho. eu deixo essas peças bagunçadas dentro de uma sacola que eu sempre carrego junto com uma garrafa de água. eu não quero me sentir mais especial, mas começo a acreditar que alguns sentem mais vazios que outros. porque, por mais que a ação máxima seja viver por si mesmo, desde que nascemos, a ordem é procurar no outro o que é completo. e esperar do outro é sempre demais, é pesado, difícil. ter o papel principal nunca foi para mim, e eu sempre negarei quando falarem do círculo completo da amarelinha negra. porque eu não terminei aquilo. eu não tenho essa estrutura. e falar sobre isso não vai me solidificar. porque eu quero ser etéreo. não como água, mas como vapor.

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