quinta-feira, 4 de outubro de 2012

o começo do fim.

dê uma boa olhada em mim, pois não estarei aqui por muito tempo.
eu esperei dias para poder dizer isso. não porque ele estava longe ou algo do tipo, mas porque eu precisava criar a coragem, fazer nascer algo em mim que, até então, nunca me tinha brotado. eu sabia que tinha que olhar em seus olhos para significar o que eu dizia, mas eu só conseguia enxergar a chuva que caía por trás dos seus ombros. eu sabia que ia sentir falta daqueles ombros e tudo o que eu desejei naquele momento foi encostar minha cabeça neles e admirar a chuva que caía. o rosto dele também era bonito. uma pele de pérola, com um brilho que eu enxergava muito bem de perto, que não me cegava. talvez o problema seja eu, pensei. mas, de qualquer forma, eu precisava tomar aquela atitude. eu o abracei por um longo tempo, até a chuva passar. talvez fosse meu desespero, talvez fosse a saudade prematura ou o sentimento de culpa. mas eu sabia que ele ficaria bem. como sempre, ele encontraria alguém em quem se encostar. ele não era como eu. eu precisava de um ombro para encostar minha testa até adormecer, até me encontrar de novo, vivo. ele se sairia bem, como sempre.
de fato, eu tinha planejado tudo aquilo, inclusive a chuva. mas parecia tudo tão real para mim, tão natural. não que eu sentisse estar fazer a coisa mais fácil do mundo, mas... mas daí eu fiquei esperando ele perguntar o por que?, para que?, para onde?, perguntas que nunca vinham e só me restava, então, ir embora. eu não poderia mais ver o rosto de pérola dele. era demais. eu não podia mais sofrer tudo aquilo de novo, todos aqueles trombones. e ele sempre com a compostura de um violinista, apoiando seu queixo em mim.
então, naquela tarde chuvosa, ele se desfez do meu abraço, olhou-me nos olhos e foi embora. sem olhar para trás, sem derramar uma lágrima, sem pronunciar uma palavra.
não sei dizer se o que me deu foi ódio, raiva, ressentimento, insegurança, fraqueza, inércia ou conformação. eu sabia que ele teria o seu momento de retribuir o meu sentimento. mas aquela desesperança, o não-tapa que doeu mais do que um de verdade... nada fez muito sentido na hora. nem na hora e nem agora. eu não consigo explicar as reações humanas assim como não consigo explicar como é possível manter uma pele como a dele. era tudo tão irreal que eu começo a achar que tudo era falso. não que não houvesse amor ou um mínimo de compaixão, mas que eu e ele nunca tínhamos existido. não juntos. eu poderia ser uma dessas pessoas que não dissociam fantasia de realidade, que criam realidades que não fazem sentido e são aceitas mesmo assim. ou talvez eu tivesse criado todos aqueles laços com o pressuposto de desfazê-los. de fato, eu não procuro tentar me compreender neste momento. eu não quero entender a sua reação. eu preciso pensar agora em meu destino, se fico aqui ou se corro, se morro e choro ou fujo e sonho. não que nada se mescle e se desfaça em novo, mas minha ação de borracha amarela precisa de próximo passo, e meu pé está em minha cabeça agora, assim como a casca da banana na amarelinha sem ilusão de céu.
mas disso tudo eu guardo uma memória oculta mais do que tudo, a memória de que ele não olhou para trás e então eu disse: mon amour, c'est le fin.

2 comentários:

  1. se algum dia chegar a publicar esses textos em um livro, você me dá a honra de fazer a foto da capa dele? :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. e precisa responder isso? eu vou pessoalmente pedir! inclusive aquela foto do escritor de orelha de livro, rs.

      Excluir