quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

31 de dezembro.

eu não queria passar meu aniversário lá naquele ano. não sei se eram as emoções em êxtase de todo um ciclo, um período em que tudo parecia incomodar, mas eu precisava não estar lá. e lá significa a vida que eu tinha, o corpo que eu tinha, aquela existência. tudo o que eu queria no meu aniversário era não existir, pelo menos por um dia. será que esse era um presente que podia ser dado?
a lua cheia me chamava todos os dias, insistentemente, sem sequer me deixar dormir. o brilho que expunha em minha cara com um tom de promessa, nem boa nem ruim, mas diferente... como uma viagem à lua, algo mais real do que o que foi televisionado num tempo em que eu nem sonhava existir ou talvez já existisse sem saber. mas esses tempos do presente que não me faziam bem algum, aliquid non bonum que talvez nem seja forma de expressão clássica, mas que faz sentido para mim. eu precisava de algo que fizesse sentido, precisava me sentir seguro e calmo. pacífico. precisava de algo maior do que tudo aquilo e, ainda assim, bem pequeno. uma faísca, eu precisava de uma faísca, um salto no espaço.
então, hoje eu penso que, talvez, se eu desse o pulo, tudo viria correndo atrás e, enfim, eu poderia ser pacífico. mas talvez tudo não passasse de um blefe do destino a rir da minha cara insegura. pois de sonhar com nuvens, de andar pelas ruas descalço e de chorar no chão do que eu chamava de quarto dia-sim, dia-não, nada eu poderia concluir a não ser que tudo não passava de blefe. de todo o tempo gasto em sonho de outros lugares, outras vozes. de todas as manhã em que fui forçado a acordar contra minha própria natureza porque a vida não depende de mim, mas eu dependo dela. de todo o latim que eu não aprendi até hoje, de todo o agora que já passou, de todas as refeições recusadas, de todas as buzinas não tocadas.
e é num dia como hoje que eu me sento no mesmo chão que deixei de varrer depois da catástrofe. todos os cacos de vidro, finalmente, cortam-me a carne e eu posso sangrar em paz. relembrando todos aqueles anos em que eu me contive por pena e sentimento pelos outros, pela consideração que nem era recíproca, pelo pensamento e por todo o sentimento e caos deixado post mortem. agora não. agora o tempo é pacífico, onde ficam as fossas marianas. agora eu posso finalmente afundar como um pedaço bruto de ouro sem prospecção de resgate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário