sábado, 30 de março de 2013

o sentido.

agora já não importa mais que não choveu quando eu precisei de chuva. tudo o que eu queria sentir já se foi e o que posso dizer é que nada mais pode ser feito para reparar. não vou voltar no tempo para reviver as coisas boas e emendar as más. eu olho agora para o meu futuro, deixando o passado como um pássaro que morreu e foi enterrado debaixo da grande palmeira no jardim da minha antiga casa. agora eu moro em um apartamento. pequeno o suficiente para uma pessoa. com a possibilidade de um gato. porque eu ouço todos falando dos seus gatos e cachorros - um dia, também terei essa companhia. eu também posso ser igual a todo o mundo, mesmo sendo diferente do comum. nem todo mundo mora sozinho num apartamento pequeno, mas eu posso ser igual àqueles que assim o vivem, eu sei que posso. eu não vou me cortar para sentir que existo, eu não vou enfiar um cotonete no ouvido até sentir dor e ouvir algum som sair da minha garganta depois de três meses sem falar com ninguém. eu não vou enxergar uma luz diáfana, um pontinho branco se expandindo lá de cima enquanto eu olho do profundo. eu posso fazer como todo mundo, engolir tudo e seguir em frente. sentir que está tudo bem, ou que tudo está bem. sentir que eu posso muito, muito mesmo, agora. sentir, em mim, uma vontade enorme de fazer valer, de não perder nenhum segundo pensando no que fazer, pensando, enfim, na vida. o verbo é viver. é sentir a vida entrar pelas narinas, as emoções à flor de pele, o vento raspando a epiderme quase à velocidade da luz. eu quero viver a vida de cueca, andar por todas a praças, sentir o cheiro do arroz queimando no fogão enquanto eu estiver debaixo do chuveiro. fazer o que eu sempre digo que vou fazer, andar descalço, de patins, ficar tonto de vomitar. rodar, rodar, rodar. eu vou jogar água para cima, correr pelas ruas de são paulo, ler todos os livros do mundo, grampear todos os meus trabalhos, comer farofa de formiga e ver todos os filmes do hitchcock. eu estou pronto; eu sei, eu sinto. estou pronto para descobrir qual é minha vocação, para descobrir qual é meu verdadeiro sonho e seguir em frente. estou pronto para pular a ponte.

Um comentário:

  1. Lucas!
    Seus textos estão lindos como sempre
    Não consigo falar com você pelo telefone, mas queria te falar que esse ano o pessoal do teatro conseguiu com a direção argumentar, e ex-alunos poderão fazer aula! Se você quiser, apareça por lá, e mesmo que não queira fazer a aula efetivamente, agora pode só aparecer de vez em quando também. Mas primeiro preciso saber se quer, pra que eu dê o seu nome lá pra a direção.
    Abraços, lucas
    Saudades :)

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