domingo, 14 de julho de 2013

relato dos últimos seis.

ninguém pode me ouvir chorando do inferno. e nem por ser um querer meu, mas esperar nunca é o suficiente. tudo o que eu finalmente tinha conseguido imaginar, tudo que seria diferente, tudo agora anestesiado, toda uma dor que já não é mais latente, não pulsa a cada minuto, esperando o momento de finalmente explodir garganta afora, acima do coração entalado. é uma bordinha se desmanchando em cor, algo mais claro mas irrelevante. como se eu não precisasse mais das minhas vírgulas e lesse sem maiores problemas&protestos os textos sem vírgula exponenciados ao redor desse mundo que gira em torno de si próprio mas nem isso. toda a minha insignificância volta à tona e eu penso no quanto eu poderia estar produzindo, quanto eu estou desperdiçando o meu tempo, quanto estou desperdiçando minha vida. pois eu poderia estar planejando tudo cada vez mais e mais e seguir, enfim, como outra pessoa qualquer, que tem uma visão do futuro, ou pelo menos um projeto de futuro. mas eu ainda tenho aquela mancha de café de 2005 na minha camiseta, aquela ferida perto do umbigo que nunca cicatriza e aquela mania&agonia interrompível de listar sempre três. e cada vez mais eu procuro feridas para tirar suas cascas e teimo em limpar os ouvidos todos os dias, tudo isso para me sentir menos pesado do meu incômodo de procrastinação. talvez, na verdade, não seja essa a palavra&sensação exata, mas na falta de motivação, vai a palavra mais próxima no vocabulário de palavras - agora - semi-inusuais. talvez se eu sentisse falta de alguma coisa, mas tudo isso eu ainda não vivi. e sempre me pego pensando ao que os outros estão se dedicando enquanto eu dedilho no espaço preenchido pelo som do ventilador e de músicas cada vez mais noventistas pelo simples motivo de não haver mais nada. se eu ao menos sentisse falta de um antigo eu, mas não. se eu sentisse falta de alguém, alguém de verdade, mas não. e eu não sou de inventar mentiras mais do que as que eu invento no dia-a-dia para convencer a mim mesmo de que aquilo pode ser feito, de que eu consigo só mais um pouco, só em razão de algo - desconhecido - a ser alcançado. por um breve tempo eu sonhei com bosques de eucaliptos, mas isso era para continuar a ser eu mesmo, apenas pior. pior no sentido de mais soluto que solução. eu tenho pouca solução; talvez nenhuma, como muitos dos que leio, diferente dos que escrevem. e eu vejo muito pouco em mim que possa, de fato, prosseguir para aquilo que, enfim, chamam de felicidade. e isso não é ruim. mas também não é bom, porque essa é uma das principais motivações, não? o que resta para mim, então? buscar minha espiritualidade, como salinger? e como faz para alcançar isso? talvez eu seja baixo demais para alcançar a vida plena. talvez eu tenha um destino com um caminho perfeito, mas perfeito para quem assiste com olhos de formiga, concentrado não em mim, mas nos seus próprios princípios&prazeres, futuros&saberes. para mim, bom é melhor do que perfeito, de fato. talvez se numa noite eu tivesse uma epifania, tudo seria mais simples, mesmo depois de chorar por dias num sofá e negar caldo de legumes oferecido trocentas vezes. se eu não trocasse o livro que carrego na bolsa a cada semana do mês talvez tivesse mais paciência para ler a mim mesmo. é disso que eu tenho medo, de ler cada vez mais outrem e ignorar, cada vez mais, a mim mesmo, quem deveria ser a prioridade desta vida dada pela própria vida vivente que vive por si só. eu sei que não sei de nada no fundo, mas lá no fundo também existe uma razão que provoca sensações estranhas ao deixar de caminhar para pilotar ou dirigir qualquer coisa que seja que, no início, pareceu-me muito volátil e muito fácil - de se perder -. e eu estou desenvolvendo cada vez mais medo de pilotar máquinas com cada vez menos controle. não, não é o câmbio automático, mas a volatilidade disso tudo que ninguém consegue nomear e entender de verdade. o que será que passa na cabeça de alguém que me vê, assim, e pensa que eu vivo de verdade? como será que esse alguém vive, de verdade? eu tenho questionamentos cada vez mais rasos e nenhuma personagem conversando sobre sapatos consegue me fazer esquecer isso. mesmo que eu tenha andado contra o vento numa cidade no fim do mundo, sozinho, enfim, nada disso parece ter sido real. e eu nem chorei de verdade. porque, de início, acho que nunca acreditei em mim mesmo, porque eu sei o quanto engano a mim mesmo tentando enganar todos ao redor sabendo da verdade do auto-engano. e, no fim, a tentativa é mesmo um auto-engano, porque eu preciso me fazer acreditar que tudo é interessante, que, no pouco do que eu acho interessante, podem haver adições. porque, só para soar mais cliché e seguindo a lógica, essa subtração descontrolada ou, melhor, divisão oculta, tem estado cada vez mais ativa enquanto eu me torno a voz passiva de todas as minhas ações. se eu sorri nestes últimos meses, pode desacreditar. se você não me viu, não teria feito muita diferença, porque eu seria forçado - por mim mesmo - a mentir para você, o que ninguém acreditaria, ao menos ninguém que realmente me conhece, mesmo do pouco que eu deixo e. isso nunca foi o bastante. talvez a vida não seja o bastante. mas eu gostaria de me sentir completo, porque completo é para sempre, mesmo que as partes se partam, porque tudo é pedaço, tudo é cola e barbante, tudo é conjunto de feito&desfeito, para não dizer célula&energia. ma(i)s nada, nada é carne e batatas.


2 comentários:

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  2. lucas, queria puder dizer algo que não parecesse com uma sopa de legumes

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