sábado, 15 de agosto de 2009

Que outro nome haveria de ser se não Lúcio?

Uma xícara de café na mão, uma tela de computador, uma cadeira eventual. Será que era só disso mesmo que ele precisava? Ele achava que sim, é claro. Afinal, sua imaginação era “colossal e espontânea”, em suas próprias palavras. Mas um som ambiente não faria nada mal. Não, nada de lounge music. Eu disse som ambiente: uma música vinda das caixas de som, da vitrola ou até mesmo da rua Almirante Guilhem.
O digitar, porém, não era incessante. Sua imaginação pairava no ar e sua cabeça recostava-se era no chão. Nada de metáforas e muito menos metonímias lhe vinham à cabeça. A essa altura da vida, nada lhe tinha nome. O que eram metonímias? “Talvez um pouco mais de café ajude”. E um bom livro de gramática.
Alguns minutos passaram e nada. Por que será que nada lhe vinha à cabeça se nesses 20 anos de reclusão nada lhe faltou? Quantos mil livros já havia escrito assim? Por que logo agora isso estava lhe ocorrendo? Por que agora, justo agora, sua mente não trabalhava mais? As paredes não lhe eram mais inspiração? O lustre no teto, talvez? Não; nada lhe vinha.
A segunda xícara de café acabou. E o que lhe restou não foi mais do que a borra. Não; ele já havia feito um ensaio sobre a borra do café, famosíssimo por sinal. Outro agora não ia lhe dar fama, dinheiro nem satisfação – esse último, o que ele mais prezava.
“Vejamos quais são as opções ocultas...” Na sala não tinha sofá; janela já tinha escrito; som da rua nem mais percebia, infelizmente. Não, quadro também não tinha. Cozinha não era seu hobby, não queria se aventurar num mundo desconhecido. Pelo menos não nesse momento angustiante. “Isso! A angústia. Por que não escrever sobre a angústia de não conseguir escrever?”. Não, Lúcio, tudo menos isso! Sabe aquela história de um menino que tinha que fazer uma redação e não sabia sobre o que escrever e decidiu enfim fazer uma redação sobre um menino que tinha que fazer uma redação e não sabia o que escrever e enfim decidiu escrever sobre um menino que tinha que fazer uma redação e...? E assim vai. O que quero lhe dizer é que essa é a fórmula mais barata de um escritor. Nem em casos de extrema falta de assunto deve-se usá-la. Assunto proibido, frasco tarja preta, perigo... DANGER, Lúcio!
“Outra xícara de café, então?” Um é pouco, dois é bom... O que você precisa não é de cafeína, Lúcio. Você precisa é de vida. Vida sua, vida alheia. Viva. Decore sua casa, mude as paredes, compre um sofá ou até mesmo arranje um pela rua. Colete coisas pela rua, pinte, borde, coloque alguma coisa no bolso e, tocando ela, desenhe-a. Use uma caneta vermelha por um dia pra fazer tudo, simplesmente tudo que envolver caneta. Faça coisas. Faça. Coisas. Lúcio.
Viva, Lúcio. Abra essa... Essa merda dessa porta do seu apartamento e ponha o pé fora daí. Já se faz hora de colocar os pés no chão. Desça do sétimo andar, de escada, vá pintando as paredes, ouça música da rua, grave uma conversa qualquer. Viva o alheio, pergunte a alguém se quer ser seu amigo... Seja. Apenas seja, Lúcio.


Lúcio... Lúcio.

2 comentários:

  1. Eu entro e está tudo mudado!
    É só um blog, só um blog... Oq mais mudou? Cancerianos são bobos, apaixonados e n gostam de mudnças... Gostam! mas tem medo delas.
    Não, não...
    Não se perca de mim, n se esqueça de mim... A chuva tá caindo e quando a chuva cai, meu bem, eu perco a cabeça.
    Eu quero a gente.. Vc é um dos caras mais fantasticos que eu já conheci.
    Um beijo.
    ou melhor
    beijo beijo beijo beijo beijo...

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  2. lucido...
    a principio pensei ter entrado no blog errado...rs sempre é bom uma casa nova...
    bjo

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