quinta-feira, 3 de setembro de 2009
De um parágrafo só.
Já deviam ser o quê? Dez da noite? Mas para aqueles dois nada disso importava. Nem a hora nem a iluminação precária da rua, meio amarelada. Durante toda a manhã e tarde aquele asfalto havia absorvido calor. E agora ele aconchegava os vagantes da noite. E nenhuma brisa os impediriam de ter uma noite tranqüila. Somente aqueles dois seres falantes que se encontraram na rua lá pelas dez da noite. Amigos de longa data, talvez. Ou apenas uma paquera trivial. Mas parece que aqueles dois sabiam do eco dessas ruas e falaram baixinho, muito baixinho, para que eu não ouvisse daqui de cima. Chamam-me de bisbilhoteiro, voyeur, seja o que for... Mas se eu não observar a vida dos outros, sobre o que mais vou escrever? A minha já não anda assim tão interessante. Os anos se passaram e aprendi a escrever desde cedo. Ganhei meu primeiro caderno foi o quê? Aos sete? Sim, aos sete. Os anos se passaram, as lembranças ficaram... Mas todas esgotadas e desgastadas. Já contei mais de sete as vezes que escrevi sobre o episódio do vaso quebrado. E olha que sete nem é exagero comparado à exploração dos outros temas. Sobre amor já não escrevo mais. Depois que comparei o amor a uma banana, todas as academias literárias e mulheres passaram a me rejeitar. E não que eu não tenha experimentado (muito pelo contrário; minha turma era muito saidinha), mas homozigose não é pra mim. O que me resta então é o campo da observação. E nesses tempos de gripe suína, passar álcool nas mãos.
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