Lembro do meu primeiro dia de vida, o olhar do escuro para o claro, a touca que me puseram dentro. Tudo apareceu para eu me acostumar, as pessoas que tive de chamar de pais, as tias e tios, avôs e avós, padrinho, madrinha, mãínha; paínho. Lembro-me especialmente destes dois últimos: pilares da minha existência, da minha morte repentina do crepe humano. Dia 27, mês caçamba-de-bois, tudo bem guardadinho em minha memória póstuma. Não que eu minta, mas minha mãe morrendo e o buraquinho da fechadura não foram os melhores momentos da minha vida. Mas recordo, assim como guardo as caixinhas de fósforos, os botões das camisas, os bailes de formatura e as meninas que beijei na orelha. Rabisco de lápis, filme de ação, Tenesse. O clima bem faroeste das minhas brincadeiras com o Maurício, as músicas de “bang-bang”, tudo. Lembro-me de toda a minha infância.
O que me faz penar, por outro lado, é a minha desmemória de adulto. Vida corrida, nem sei. Acho que foi mais sugestão exacerbada de um certo Sr. X. Laranja irritante, azul encaracolado... Todas as cores do cabelo da Sandra eu vi nessa tal de regressão. Trancado num quarto com cobras, tudo de vinil eu escutei. Tinha de Dorival Caymmi a Fábio Júnior. Foram dias confusos, confesso. Muita bagunça em minha cabeça, cabocla do cerrado que me fez visita inesperada. Tudo, tudo.
Decidi comer açúcar para esquecer tudo isso. Tudo já é passado e eu agora sou um homem de presente; sem futuro. Não me recordo de amanhã e nem planejo ontem. Vejo tudo pelos olhos d’água, não me importo com o extremamente necessário. Só a vista me consome, os passarinhos a aninhar em meu caule da cabeça. Tudo pelado aqui em casa. É assim pra sempre, até eu virar velho. E que o Sr. me perdoe, Sr. X.
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