quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A sapiência.




Longas, claras unhas. O chão era vermelho e o tapete bordô. O sangue, homogêneo, não se misturava aos queijos derretidos do seu caminhar. Os biombos da manhã, o café do entardecer, tudo misturado, mas heterogêneo. “A vida é curta”, ela me dizia. Mas quem sempre ligou para a carnificina nunca vai se preocupar com a periodicidade linear do sonho ancestral. A musa estará sempre lá, eu pensei anos atrás. Lembro-me dos talhes e das colheres de espuma, das calcificações nos meus ossos e meus ombros calejados. Com tudo muito insano, muito insípido, sei que sou inóspito. Um grande corvo, pássaro preto de asas rasas de paixão e dissabor romântico. Faço dezessete, três anos de solidão. Quarto escuro, uma taverna sem bebida. Sem álcool, que me anima. Onde tem álcool, tristesse. Estando em desconstrução, meu sangue não me corrói. A poeira dos olhos, a remela do lampejo; lhama escassa, dedo na boca. Faço parte de uma poesia itinerante da angústia dos anjos. Sou linha e pontapé, suddenly banana. Um matadouro, coração com espinho. Irmãos e irmãs, juntem-se nessa aventura insípida da alma que sucinta o afago acolhedor dos campos de girassóis. Foi tudo uma ilusão sem caráter avaliado, eu sei. Também sei dos sóis que habitam a órbita dos olhos teus, tua boca carnuda e os seios fartos. É, tudo grande, que nem a palavra coração. Mas meu mundo é pequeno e, de grande, só cabe a mim mesmo. Por isso fecho-me e deixo para trás tudo que me foi, um dia, incipiente.

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