domingo, 14 de março de 2010

ser príncipe.

inútil chama rondando o luar, sinto que farfalhas a nuvem gigante do céu estrelado. faz estrelas em meu corpo, pontinhos de cor e passarinhos burilando o meu tão sonhado cóccix. as asas que já não mais nasceram, sem forma, sem cor. perdi minha essência, roubada pela noite, trombadinha que é. eu só quis dizer que e não mais pude. perdi a fala, perdi o chão. dinheiro nem foi o importante. eu só quis te provar o meu amor, como doce de padaria portuguesa. mas não é assim que as coisas são. todas elas agora são encapuzadas ou enraizadas nas memórias falhas da vida. o simples toque dos seus dedos em qualquer canto do quarto, as recorrentes paredes verdes... eu! fui-me embora daqui. já não tinha mais sonhos, sem mais nuvens. fui-me para o deserto; ser príncipe. o princípio de um novo tempo, a navegar pelas areias sem calor específico – perda de tempo, perda de amores absolutos e inconclusos. burilei o cóccix de uma tartaruga, roí os pés, soei a sirene e carreguei os presentes inutilmente. fui-me pro espaço, perdi-me nas tais estrelas, a te procurar, meu astronauta. (...) perde-me de vista e me procura infinitamente sem destinos cruzados ou almas penadas. quero só companhia e solidão. alone together, perfeição brusca do que é material. sente-se em mim, toca o meu corpo e deita-se sobre as minhas pernas pintadas. pois é pra logo que meu tom de azul vai-se embora. e eu te amo tanto...
senta-me em meu trono, despedaça-me o coração e joga as cinzas do meu pássaro pelo salão. eu que te dei tanto amor, recebo ódio em vão. susto. suspendi o suspiro, perdi a respiração. desde já não sonho mais nada, nem pesadelo. não sinto ervilha, não salvo baleias. perco os sentidos, ouço vozes, sigo procissões... vou-me pro deserto e lá mesmo fico; até agora.
sinto que o céu já não mais se mexe. mexe pra mim, com colher, amor. joga sal, açúcar, dá tempero e dissolve-me em teus desejos mais postiços. quero te olhar por dentro, noite azul. quero a lua dentro de mim, quero ficar dentro da lua. quero buraquinhos infinitos, quero ser príncipe do céu, sem súditos, só amores. só amor. viver de amor. morrer de amor. seco. meu fim nem é tão próximo, mas as plantas nascem e morrem. joga-me a água, vai. despedaça-me as pétalas, corta tudo. toma a tesoura, augusto, que aqui os vermes nem deixam cabelos.
sem mais cientificismo, já vou-me. adeus, princesa. e venham, pra já. que eu...

Um comentário:

  1. nossa...
    só tenho uma coisa a dizer:
    perfeito...
    o ritmo do seu texto dá vontade de ficar lendo pra sempre...
    bjo!

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