quando eu me virei, ela já tinha ido embora. era como se tudo aquilo que eu tentei construir ao longo de cinco anos se esvaísse em poeira pura num sopro da lua. todos aqueles moços que eu tentei inventar para lhe satisfazer, todas as cordas que eu rompi: tudo saiu da minha história. aquelas frases em francês que eu inventei...
talvez tudo não passasse mesmo de um breve momento, de um hiatus da minha vida, de um momento dedicado a outra pessoa além de mim. mas, sim, era como se eu tivesse perdido cinco anos da minha vida. e sim, eu sei que tudo isso me mudou, que eu cresci com tudo isso, mas, mesmo assim. fica fazendo uma falta que não tem tamanho. a gente se acostuma com as coisas, torna rotina dar um beijo de bom-dia na pessoa que você ama, arrumar a cama da pessoa que você ama, amar a pessoa que.
quando tudo vai embora, a gente perde as pernas, fica parado num canto, estatelado no chão, chorando lágrimas que não descem. esperando um telefonema qualquer sem querer atendê-lo; esperando a campainha tocar sem querer abrir a porta; uma carta que não queria ser lida, que seja!
no estado em que me encontro, eu, na verdade, não me encontro. não sei o que fazer, simplesmente. as coisas simples da vida são assim, incompreensíveis pela sua simplicidade e. eu não sei. acho que perdi tudo que eu tinha e nem meus móveis estão aqui para que eu me apoie fisicamente. eu perdi todas as músicas que eu já tinha decorado no meu cérebro, todo o meu léxico, todas as minhas. talvez eu tenha me perdido, não sei. talvez eu. talvez ele. talvez ela. talvez nós.
a vida é desfazer nós, nós de nós mesmos.
eu poderia pedir ajuda a alguém, mas eu não sei quem é esse alguém e eu não quero me apaixonar por mais ninguém. eu não quero paixão, eu não quero amor. eu não quero nada. será que alguém consegue entender um desiludido? será que alguém nesse mundo consegue compreender que nem sempre o m vem antes do p e do b?
como se todas as leis gramaticais falhassem na minha comunicação, eu não. eu nunca tive limites para isso. eu nunca tive coragem de correr o risco. eu sempre fiquei aqui e, de repente, quando eu me dei conta, eles apareceram e levaram essa bailarina, esse astronauta que eu sempre sonhei, como se não existisse príncipe, como se não existisse princesa, como se nossa mãe tivesse mentido para nós, nós, a vida inteirinha, amarrado crenças falsas em nossos cérebros e a gente não conseguisse mais se desfazer delas porque, acredito eu, ninguém coloca a mão no cérebro. quero dizer, ninguém controla o cérebro. quero dizer, ninguém racionaliza o coração. ah.
pode ter sido insensatez, pode ter sido eu mesmo. será que fui eu? o que eu fiz para que isso. eu não sei. eu penso que. eu não consigo pensar em nada. eu só perdi. perdi o jogo, não ganhei o amor. nem flores se iluminam quando eu passo na praça, nem trompetistas me olham no olho e pedem por uma inspiração. eu perdi.
quem perde o jogo, nunca mais ganha. talvez. eu não sei. eu nunca vivi isso. eu só. eu só queria me encontrar agora. nem os quero de volta. nem quero nós. nem os velhos, nem os novos. eu só quero me encontrar. eu preciso. eu só. eu. só.
vou comprar uma fatia de melancia. talvez acalente meu coração, clareie minha idéias que eu nem sei se ainda tenho e.
talvez eu não saiba amar.
Prefiro uma fatia de melancia a amar!
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