quarta-feira, 30 de maio de 2012

tríptico da decisão: o sim.

e, dez horas depois, eu toquei no livro que você me emprestou. foi uma sensação de culpa e insaciedade. me sinto preso numa coisa que sei que não posso, não devo mais. porque eu sei que não preciso ler esse livro, porque eu sei que ler esse livro não vai resolver nada. porque eu posso andar os 12 quilômetros e meio que separam minha casa da sua casa, sim, eu posso. mas para quê? talvez essa não seja a pergunta crucial, mas, talvez, por quê? porque isso, através de um olhar meu e somente meu, parece simples birra. posso estar errado também, e admito, e não empino esse nariz que você parece enxergar toda vez que eu abro a boca ou toco numa caneta. eu falo de igual para igual, como sempre, expressando uma opinião que pode não ser igual à sua, mas que te respeita com qualquer, ou melhor, algumas outras. dentre algumas outras coisas, eu vejo como birra primeiro porque não parece clara a minha culpa, a sua culpa ou culpa de ninguém. o que foi feito? o que não foi? o que deve ser e o que não deve? essas perguntas que eu faço e que você não responde, essas que têm resposta simples que nem passarinho verde em dia de sol e passarinho preto em dia de chuva. e choveu bastante, do tempo fechar a cara e nos deixar em casa, no meio de uma ilha chamada quarto. você parece não entender que as coisas são simples e difíceis ao mesmo tempo e que tudo pode ser resolvido com um simples "eu aceito". não, não de casamento, mas de jeito que o outro é. é fácil demais ler o que se fala e criar em sua cabeça um senhorzinho de suspensórios, cabelo com gel, óculos fundo de garrafa e camisa pólo, segurando livros de filosofia numa mão e um copo de eu-sei-mais-do-que-você na outra. é fácil demais criar uma imagem irreal de uma pessoa que você sabe que não é assim. a solução é eu parar de ler, de escrever, de me interessar por uma linguagem que dizem ser correta, que eu não acredito ser correta, mas gosto de escrever como ela? eu devo ser crucificado por isso?  jesus died for somebody sins, but not mine. será que seu óculos não está trocado? será que não é porque você não usa óculos, porque você não usa óculos? será que é porque eu uso constantemente palavras como justamente, simplesmente, constantemente... é um problema da mente, de quem mente mais do que eu, de quem força uma realidade de forca para si próprio e para um real-eu que não se enxerga com essas pupilas dilatadas dos seus olhos sempre vermelhos. de raiva, de emoção ou de simples birra. simples e complicada, porque afeta. e arranca e rasga a cortina daquilo que não é espetáculo, daquilo que não é para ser espetáculo, mas que você acaba transformando em um mais esquete de artes dramáticas. eu permaneço aqui firme porque sei do que sinto e sei que é válido, mas posso eu ficar aqui parado enquanto você pinta a cara toda de batom e não se resigna pelas suas atitudes infantis? é válido eu ficar aqui, detrás de uma tela iluminada que você deveria crescer e que eu já sou bem grandinho? não, eu não estou certo. mas não, eu também não estou errado. não estou cem por cento, assim como você. assim como ninguém e assim como nada. eu pensei que anular uma bolha fosse a melhor opção, mas voltar atrás e pedir desculpas pelo que desconheço talvez seja a melhor. será? será que seja eu mesmo quem deva de submeter a uma coisa sem pé nem cabeça? será que sou eu quem deve ajoelhar e abrir uma caixinha de onde sairá um brilho que não pára nem onde judas perdeu suas meias? será que sou eu quem deve pedir desculpas e ser desculpado? não, não é ironia ou pergunta recíproca. eu me pergunto mesmo se isso tudo é verdade, se é tudo verdade, se é verdade tudo isso. porque se eu não abdico do meu um parágrafo para dizer algumas minhas verdades, talvez seja porque eu acredito nisso. não piamente, não profundamente, mas sinceramente. porque, simplesmente, não posso manter uma máscara de cary grant por muito tempo sobre a minha face. porque não posso vestir uma roupa de astronauta e te prometer a lua quando sei, e você também, que não vou trazer. ainda não sei se sei fazer canções, mas tentar nunca é demais. e eu sempre deixei para ti a minha possibilidade. sempre deixei a minha porta terapêutica semi-aberta, semi-cerrada. eu quero ser uma pessoa melhor, mas não, não vou seguir um modelo desenhado. e você sabe. pode soar clichê, mas mesmo que eu tenha feito 45 horas de francês, não vou ficar pondo expressões e dizendo clichê como cliché. se eu tivesse esse nariz empinado, se eu fosse tão, assim, mal-amado, talvez. mas não, eu sei que valho mais do que você tem me dado de valor, e de preço também. eu não sou essa mixaria, mas também não valho uma barra de ouro. de que valem os seres humanos se não para se machucar? posso te passar alguns vídeos comparativos do que é esnobismo e realismo? posso te dizer que eu não sou realista nem esnobe? será que dá para você respeitar o meu jeito de ser? porque, por mais que eu já esteja cansado disso tudo, não enxergo culpa em quem diz que não perdoa. porque quem perdoa, acha. quem não perdoa, perde e mata. e não resposta hermética como final de parágrafo. porque isso não pára por aqui e porque eu sinto que tudo pode ir muito mais além do que a gente tem permitido e se permitido. se você prefere que eu assuma uma culpa, a máscara do cary grant tá aqui do lado, com palavras cortadas, pronúncia e escrita errada, um sorriso de palhaço do mc donald's e um hambúrger de picanha que encomendei só para interpretar, durante todas as segundas do próximo mês, uma personagem que não se parece em nada comigo. talvez assim seja mais fácil para você - e para mim também, porque é sempre mais fácil interpretar a quem não se parece. a similaridade mata a construção da personagem, do caráter e da boa vontade. se eu posso levar pra mais de um mês, a resposta é sim. eu posso levar por anos, eu posso deixar se incrustar em mim, assim como acontece com o homem-aranha, posso deixar de lada referências que eu gosto, autores que eu leio, músicas que eu ouço e aceitar de vez, com um sorriso brilhante no rosto, todas as suas sugestões. seu desejo é uma ordem. eu posso me submeter a um caráter que não sou eu na realidade. eu posso deixar para trás toda a ironia, assim, de pronto. listo. e deixo todo o meu espanhol, todas as minhas palavras em itálico, inclusive a que mais se encaixa, porque eu posso tudo, eu te devo tudo. eu não sou quem eu quero, mas posso ser que você quer.

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